segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Por uma Fé engajada entre os jovens I



Por Jonathan Menezes

Não vemos mais aquele brilho nos olhos de nossa juventude, nem a consciência da realidade, vitalidade e luta que marcou toda uma geração na década de 80, por exemplo, a chamada “geração perdida”. Uma geração que foi às ruas, brigando por um Brasil mais justo e igualitário, por uma universidade melhor, mais aberta e inclusiva. E fico me perguntando, se aquela geração – que ainda tinha motivação para brigar por seus direitos e que acreditava em mudanças – pôde ser considerada “perdida”, o que se pode dizer desta, que, em geral, tem se demonstrado sem esperança, alienada, marcada pelo individualismo e o espírito de incerteza de nosso tempo?

Outra pergunta que podemos nos fazer é: até que ponto nossa juventude evangélica também não tem imergido nessa maré pós-moderna de hedonismo, consumismo, “lipoaspiração” e desconexão com a história? Será que não temos sido tão propagadores dessa “desplugação” geral quanto aos valores de comprometimento e solidariedade para com o outro, ao adotarmos indiscriminadamente a novas formas de religiosidade do eu que por aí se tem difundido? Parece-me que uma resposta contundente está nas palavras de Marcelo Gualberto:

Os jovens evangélicos de hoje nasceram e cresceram sob um tipo de ‘ditadura musical’ não institucional que praticamente excluiu da agenda e da liturgia a Palavra, estabelecendo infindáveis “períodos de louvor” – não raro, liderados por pessoas absolutamente despreparadas ou não vocacionadas. O microfone passou das mãos dos pregadores para as mãos dos músicos e cantores. Estes, por sua vez, incentivaram a juventude a mandar ‘beijinhos pra Jesus’, ‘orar de madrugada porque a fila é menor’, ‘sentar no colo do Pai e puxar sua barba’, ‘ter um romance com Deus’, ‘correr na casa do Pai’ e desenvolver uma espiritualidade utilitarista, pela qual o servo passa a ser o senhor que determina e “toma posse” da benção, que considera uma obrigação divina.

Gualberto ainda oferece algumas pistas sobre que jovem surgiu na igreja evangélica como fruto desse tipo de espiritualidade. Três características são apontadas:

1) Juventude religiosa no discurso, mas incrédula na prática. Nossas igrejas estão cheias de jovens cujo discurso não combina com a prática (isso quando tem discurso). É crescente o número de jovens, mas também é crescente o número dos que engrossam a fila dos “sem-religião”.

2) Juventude conectada, mas imatura. É uma juventude conectada com as transformações no famigerado mundo gospel, porém imatura espiritualmente por falta de interesse no estudo sistemático da Palavra. É bem-informada, mas com uma pobre formação teológica.

3) Juventude sarada e talentosa, mas cansada e indisponível. Embora faça parte dessa geração saúde, fitness, que adora corpos bem-cuidados, está cansada por inúmeros compromissos, e por isso mais propensa à busca por um evangelho Light, e a viver apenas o cosmético da fé.

É difícil, mas temos de confessar e lamentar que nossos sonhos como igreja hoje não ultrapassam mais os devaneios de consumo da sociedade pós-industrial e selvaticamente capitalista em que vivemos. Que nossos anseios por mudança não passem mais por propostas fecundas de reforma social e política, através do engajamento nas estruturas sócio-políticas e nos movimentos de base. Que a razão de ser de nossa criatividade e mente cristãs seja a de gerar e gerir estratégias de acomodação dos crentes e de crescimento da igreja (Robinson Cavalcanti diria “inchação”). Que nosso estilo de vida, que supostamente deveria ser semelhante ao do Mestre, seja tão fechado em si mesmo, restringindo-se ao medíocre “triângulo da felicidade”: casa-igreja-trabalho.

...continua...


***Fonte: Blog do Hermes Fernandes

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