terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sobre minha fé abalável



Por Leonardo Gonçalves


Hoje vi alguém afirmar que "o cristianismo é uma aposta sem riscos". Não sei quem é o autor desta frase, mas sei que a visão do cristianismo como uma aposta remonta ao filósofo Blaise Pascal. Partindo da premissa de que é impossível “provar” que Deus existe, Pascal conclui que, de um jeito ou de outro, todos nós jogamos dados com Deus, mesmo ele não jogando dados com o Universo.

Impossível não concordar com Pascal. Infelizmente (ou não), ser cristão é uma aposta. E não só uma aposta, mas um penhor: Você entrega sua vida aqui, para receber algo melhor no além.

É ainda um salto no escuro, como disse Kierkgaard. Nos aventuramos a seguir um Deus que não vemos, e a prova da sua existência e da nossa esperança se reduz em fé (Hb 11.1).

Houve um tempo em que eu pregava um cristianismo acima de qualquer dúvida. Debatia com ateus, explorava os argumentos de Anselmo e Aquino, dissecava livros do Geisler e do Craig, e assim vendia a idéia de um cristianismo acima de qualquer suspeita. Eu era tolo e não sabia...

Hoje, alguns anos mais tarde, descobri que a dúvida é parte de um "pacote" chamado cristianismo. Há lacunas em nosso conhecimento que jamais serão preenchidas. Seguir a Cristo é apostar que tudo o que Ele disse é verdade.

As almas sinceras hão de admitir: Não temos todas as respostas, embora tenhamos respostas suficientes. Não possuímos toda a fé, embora Cristo nos aperfeiçoe na fraqueza. Não sabemos tudo sobre Deus, mas cremos que ele sabe tudo sobre nós.

As vezes me pergunto: Onde foi que eu andei este tempo todo? E a resposta que encontro é a mesma: Longe, muito longe do Senhor. Com a cabeça cheia de argumentos, mas com o coração oco. Mas eu tinha certezas! Agora, ao contrário daqueles dias, tenho muitas dúvidas. Não entendo porque tem tanta gente boa se arrebentando, se machucando; e tanto hipócrita se dando bem.

Os versos assimétricos do poeta Renato parecem refletir a verdade com uma força indizível: "É tão estranho... Os bons morrem jovens. Assim parece ser." Quem é bom quase sempre se dá mau. O mundo é injusto as vezes, e eu não sei porquê.

Porém, apesar de todo esse existencialismo, das repentinas (e passageiras) incertezas, eu nunca me senti tão perto de Deus! É um paradoxo, eu sei, mas tal como as trevas evidenciam a luz por contraste, também a fé se fortalece na dúvida. E eu poderia te dizer qualquer outra coisa, mas isso não seria sincero. Poranto, o que digo é: Você deve crer em Deus, mesmo em face deste mundo injusto, e confiar na Palavra dele de que um dia a justiça reinará.

Minhas dúvidas nunca acabam. Ontem duvidei, por um instante desesperador chorei. Eu quis entender e não pude (e talvez jamais possa). "Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos".

Mas há um fato irrefutável. Deus me deu uma certeza que nenhum manual de doutrina cristã pode dar. É quando "O Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus". Ah... certeza insofismável! Em um instante a nuvem escura se dissipa e a paz novamente reina (ainda que momentânea). "Paz... paz... Cuán dulce paz!"


"E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade."

Nenhum comentário:

Postar um comentário